Há um rio em que em muitas partes do mesmo rio não se consegue ver água, apenas lixo. Este rio chama-se Pasig e está localizado nas Filipinas e foi precisamente este rio que o fotojornalista português, Mário Cruz, decidiu fotografar e que lhe valeu o World Press Photo na Categoria Environment.

Ao entrar na loja do Marshopping que está a receber esta exposição, deparamo-nos com várias fotografias de Mário Cruz, mas também com muito lixo no chão, especialmente plástico, que visa sensibilizar os visitantes para repensar os seus hábitos de consumo. "Espero que aqueles que passam por esta exposição saiam de uma forma diferente e que possam identificar alguns destes objetos como sendo seus", disse.

Desastre ambiental

Normalmente descrito como um cenário futuro muito sombrio, Mário assegura-nos que "Viver entre o que é deixado para trás" não é sobre o futuro, é sobre o presente e para muitas pessoas também sobre o passado. "Para milhares de famílias estamos a falar do passado, porque este é um problema que já se arrasta há décadas. Há pessoas que nasceram nesta situação".

Como podemos ver nas fotografias, em Manila, a capital das Filipinas, onde se situa o rio, existe um grande problema de desigualdade. Na mesma cidade há grandes edifícios e hotéis, mas há também pessoas que vivem em pobreza extrema. Para sobreviverem, tentam encontrar materiais recicláveis no rio. "Os materiais que conseguem encontrar, vão entregar para serem reciclados na Happy Land (que é um nome curioso dada a situação) e recebem dinheiro por isso. Estamos a falar de 1 euro por dia. Estes materiais são depois vendidos a empresas de reciclagem. Este é o processo que tem lugar em Manila", explicou.

Isto significa que o rio Pasig, que foi considerado biologicamente morto nos anos 90, ainda é um meio de subsistência para estas famílias que vivem com um rendimento de 30 euros por mês, que recebem através do processo de venda de resíduos recicláveis que encontram no lixo, num rio onde é possível andar de uma margem para a outra sobre o lixo.

As crianças também ajudam as suas famílias a sobreviver e participam ativamente nesta recolha de lixo. Segundo Mário, é muito comum ver crianças a caminhar através do lixo no rio, tentando obter alguns materiais para ajudar a sua família a alimentar-se mais um dia.

Quando perguntei se havia uma solução à vista para estas pessoas, o fotografo disse-me que infelizmente o problema é também a solução para estas pessoas que não têm condições de vida, nem emprego e nem qualquer outra fonte de rendimento. Mesmo as casas improvisadas onde vivem são feitas do lixo que encontram no rio.

No entanto, o trabalho de Mário teve muito impacto na comunidade internacional e permitiu salvar a vida a pelo menos um jovem que sofria os efeitos secundários da poluição nos seus próprios pulmões. "Havia um adolescente que tinha os pulmões completamente bloqueados porque começou a ir ao rio para apanhar objetos quando tinha 5 anos de idade. Ele tinha 16 anos quando o conheci e tinha de receber oxigénio 24 horas por dia, o que é um tratamento muito dispendioso porque custa 300 euros por mês e a família sobrevive com 30 euros por mês, mas felizmente devido ao trabalho de fotografia e também por causa da comissão que me acompanho, ele conseguiu o apoio de que precisava", disse.

Tomada de consciência

Mário Cruz é um fotojornalista português que cria trabalhos focados na injustiça e nos problemas sociais e que acredita que as suas fotografias são a prova de que estas situações, por vezes geograficamente distantes, podem chegar aos nossos corações. "Quando as provas existem, não há forma de as ignorarmos".

Por esta razão, Mário Cruz apela a todos para que partilhem o seu trabalho. Ao contrário de muitas outras exposições, Mário diz que todos podem tirar fotografias do seu trabalho e até mesmo utilizar as suas fotografias porque "é por isso que elas existem". Esta exposição é um alerta, não só no sentido de que isto existe, mas é um alerta de denúncia, é algo que eu espero que crie nas pessoas a consciência de que algo precisa de ser feito. Espero que os visitantes partilhem o que viram aqui. A fotografia tem um poder único, é uma linguagem universal", disse.

Relativamente ao local em que esta exposição está a ser recebida, um centro comercial, Mário referiu que ter esta exposição num local que está ligado ao consumo é um desafio. "A exposição tem estado em vários locais, mas esta é a primeira vez que se encontra num espaço comercial. É importante que quando consumimos estas coisas, pensemos cada vez que as deitamos fora, se não podem ser reutilizadas ou se não podem ser usadas por outra pessoa", salientou.

Quem estiver interessado em visitar esta exposição, pode visitar o Marshopping entre as 12h e as 20h no piso 1, na área de restauração na zona exterior.


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Paula Martins is a fully qualified journalist, who finds writing a means of self-expression. She studied Journalism and Communication at University of Coimbra and recently Law in the Algarve. Press card: 8252

Paula Martins