O dirigente da cooperativa algarvia assinalou que a campanha 2022/2023 encerrou com quebras de produção de 50% na variedade de verão e só o recurso a laranja de importação impediu a paragem total da atividade desde agosto até novembro, quando começaram a surgir os frutos de uma nova campanha que se antevê mais positiva, assegurou.
“A [temporada] anterior revelou-se uma campanha com poucos quilogramas, na última variedade, que é a variedade de verão. Houve 50% menos do que a quantidade normal”, contou Horácio Ferreira à Lusa, frisando que essa quebra levou a que a cooperativa estivesse “parada com a laranja nacional em agosto, setembro, outubro e uma boa parte de novembro”.
Aquele responsável observou que a paragem não impediu que a cooperativa “estivesse quatro meses com o peso da estrutura a funcionar”, nos quais “a despesa aumentou e a receita diminuiu drasticamente”, mas escusou-se a avançar números, dizendo apenas que os prejuízos “foram avultados”.
A consequência foi que “a laranja do Algarve só começou a aparecer nas bancas no dia 04 de dezembro”, assinalou, esclarecendo que o fruto produzido na região “só pode utilizar este termo [de laranja do Algarve] quando é de IGP [Indicação Geográfica Protegida]”.
“Ela pode ter as condições corretas em termos de índices de maturação, de acidez, mas se não estiver inscrita como IGP não pode utilizar o termo laranja do Algarve”, justificou, indicando que a CACIAL conta com 40 associados, trabalha com 120 a 150 produtores e tem “cerca de 1.200 hectares de citrinos, todos eles certificados e em produção integrada”, na região.
O dirigente da CACIAL recordou que, no início da campanha 2022/2023, vinha-se “de um ano de superprodução” em que já se sabia que “no ano a seguir haveria alguma quebra” e a produção seria “bastante menor”, mas sublinhou que, para a campanha agora iniciada, se espera “um ano normal de produção”.
“Neste momento, na campanha que iniciámos agora, com a laranja de inverno, estamos quase próximos de um ano normal - quase, porque ainda temos alguma quebra. Na [variedade] de primavera temos [prevista] alguma quebra e na última variedade, a de Valência Late [tardia], que no ano passado teve uma quebra de 50%, este ano está bem de produção”, estimou.
Horácio Ferreira alertou, no entanto, que a atividade está a ser afetada por um “problema de água” que “está cada vez mais na ordem do dia” e que classificou como “aterrorizante” para os citricultores algarvios, cada vez mais afetados pelos efeitos da seca que atinge o Algarve.
“Se virmos que há pomares que se calhar há um mês não são regados, isto é uma catástrofe que está aqui iminente, sobretudo na zona do barlavento [oeste], onde a barragem não tem água e já se cortou a água para rega”, lamentou, considerando que a falta de água “já não é uma preocupação, é um problema real e grave” no Algarve.
O dirigente da CACIAL deu o exemplo da região autónoma espanhola da Andaluzia, onde “já se está a pensar em comprar água do Alqueva e colocar as dessalinizadoras de Almeria a trabalhar para consumo humano” e não para rega, e advertiu que se não chover a situação passa “da preocupação para uma catástrofe”.
“De onde se tira e não se põe, qualquer dia falta, e já são muitos anos a tirar e a não repor”, disse Horácio Ferreira, reconhecendo que cada produtor aguenta o impacto da seca e da falta de água como pode, enquanto espera por melhores dias.