“Não sei até que ponto é que o nosso serviço de apoio emocional pode ser considerado um barómetro da população em termos económicos, mas o facto é que há largos meses tem havido um acréscimo de chamadas em que as dificuldades financeiras surgem durante a conversa”, disse Francisco Paulino, citado pela agência Lusa.

O responsável contou que acontece ocasionalmente a pessoa que liga dizer a meio da chamada que vai ter de desligar por o saldo do telemóvel estar a acabar e só poder voltar a carregá-lo no final do mês.

“Isto acontece e deixa-nos muito constrangidos”, disse, relatando que também chegam à caixa do correio da SOS Voz Amiga vários pedidos para serem as voluntárias a ligar porque o utente não tem dinheiro para o fazer.

“São situações que causam enorme desconforto nas voluntárias, até porque uma das normas do serviço é o duplo anonimato, que não permite que sejamos nós a ligar”, explicou.

O número 800 100 441 funcionará diariamente, entre as 15 horas e 30 minutos e a meia-noite e meia, juntando-se aos que já existiam (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660).

Relativamente ao número de chamadas atendidas, Francisco Paulino disse que, em 2023, foram na ordem das 9.000, tal como tinha acontecido no ano anterior, mas observou que muitos apelos ficam por atender.

“Vamos atendendo na medida do possível, mas sabemos, através de relatórios que recebemos mensalmente, que são muitas as chamadas que ficam por atender, porque não temos voluntárias suficientes para dar resposta a toda a gente que nos liga”, disse, adiantando que atualmente o serviço tem 60 voluntários, mas seria preciso o triplo para dar “uma melhor resposta em cada turno”.

Elucidou ainda: “Se pensarmos que a primeira consulta de psiquiatria leva quase um ano até acontecer e que depois os intervalos entre as consultas são demasiado longos, as pessoas ficam com poucas hipóteses de se tratarem”.