"A imigração duplicou no país desde 2018" e este afluxo de estrangeiros "está sobretudo concentrado em Lisboa", admitiu o vereador social-democrata, destacando que o acesso à habitação na capital é dificultado pela "maior pressão de transações que se verificam", sobretudo por "estrangeiros com muito maior poder económico do que os que cá estão".
"Isto está a empurrar as famílias para fora do mercado" e "precisamos de ter políticas de habitação fortes para fazer face a isso, seja em termos de apoio ao arrendamento", seja na oferta de habitação municipal, uma prioridade do executivo, que pretende colocar no mercado nove mil fogos na próxima década, afirmou.
Filipa Roseta falava durante o segundo debate da Assembleia Municipal sobre o tema "Imigração em Lisboa: que futuro?".
Referindo que "entre 2022 e 2023, a população imigrante aumentou 37%, o que corresponde a 30% do total da população residente na cidade", a autarca reafirmou o desejo de manter a capital como uma "cidade global, multicultural e diversa".
"Quem diz o contrário está a destruir o nosso ADN" e a "ser ignorante", afirmou Filipa Roseta, prometendo: "continuaremos a ser quem somos, não seremos diferentes".
Financiamento
Relativamente ao financiamento das associações de apoio aos imigrantes, Filipa Roseta destacou as novas políticas de apoio de longa duração, com prazos até seis anos.
Segundo a vereadora, a partir de agora, estas associações terão "estabilidade previsível de financiamento", uma solução que ajudará a cumprir a estratégia municipal de "erradicar a pobreza, promover uma educação de qualidade e ter territórios e comunidades mais sustentáveis".
Nos bairros municipais, que têm 66 mil residentes, apenas 3.700 são imigrantes (a maioria de Cabo Verde), mas tem havido uma estratégia de reforço dos apoios e o "departamento de projectos de intervenção comunitária triplicou o número de acções e projectos comunitários", em linha com a "política de reconhecimento da diversidade cultural dos bairros".
António Vitorino, antigo diretor da Organização Internacional para as Migrações e atual diretor do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, também participou na Assembleia Municipal. Defendeu que "os desafios da integração são micro, afectam o local de residência" e o ensino da língua de acolhimento.
Lembrando que os dados mais recentes apontam para 1,044 milhões de imigrantes no mundo, António Vitorino disse que Portugal está "em linha com o resto da Europa, com 10 a 12%" de estrangeiros no total da população.
"Rentável"
No entanto, sublinhou que a pressão migratória é particularmente sensível em alguns locais, como Lisboa, e defendeu que "os recursos públicos e os esforços das autoridades devem ser sensíveis a esta diferente distribuição dos imigrantes".
"Os imigrantes vieram para trabalhar", disse, sublinhando que, para o país, e "numa perspetiva mercantilista", os estrangeiros "são um negócio rentável", porque contribuem cinco vezes mais do que retiram ao Estado social e desempenham funções que os nacionais não querem.
"Se houver aqui algum candidato português para apanhar frutos vermelhos em Odemira, inscreva-se na fila", brincou o ex-ministro socialista, lembrando que há sectores, como a agricultura, a construção civil ou a restauração, em que os estrangeiros representam mais de um quarto da força de trabalho.
António Vitorino considerou ainda que "muitos dos problemas de estigmatização resultam de desigualdades sociais em que os imigrantes são apresentados como problemas" e que essas desigualdades "geram sentimentos de angústia" e medo por parte dos cidadãos portugueses, que têm "medo do que não conhecem".
A luta contra a discriminação é "uma luta cultural, mas é também uma luta pela coesão da sociedade portuguesa", afirmou, admitindo que existem "áreas particularmente sensíveis" como a saúde ou a habitação.