Os dados mais recentes do INE indicam que estão a ser vendidas menos casas em Portugal, com o número de transacções a cair 4,1% no primeiro trimestre do ano face ao mesmo período do ano passado e 3,1% face aos últimos três meses do ano passado. Mostram ainda que a quebra nas transacções foi mais significativa por parte dos compradores estrangeiros, coincidindo este cenário com o fim do regime dos Residentes Não Habituais (RNH), nos termos antigos, e com o fim dos vistos dourados para investimento imobiliário:

No entanto, apesar destes dados e da instabilidade legislativa que se vive em Portugal - um dos obstáculos apontados por vários players do sector imobiliário com vista à chegada de novos investidores - o país continua no radar, com "otimismo" a ser a palavra de ordem. João Teodoro, presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI)-Conselho Regional de Corretores de Imóveis(CRECI) do Brasil, e Anthony Domathoti, presidente da mediadora norte-americana EXIT Realty Premium, partilharam com a idealista/news a sua visão sobre o mercado.

Investimento norte-americano

"Há um grande interesse por parte dos investidores norte-americanos em Portugal. 2023 foi um pouco 'calmo', no entanto, em 2024, no primeiro e segundo trimestres, houve um grande crescimento. E prevejo que o terceiro e quarto trimestres do ano vão ser excelentes. E 2025 vai ser ainda mais magnífico", estima Anthony Domathoti, sublinhando que "2025 e 2026 vão ser anos cruciais para Portugal" e que os investidores, sobretudo norte-americanos, "já não estão a investir tanto" em países como Espanha e Itália.

De acordo com Domathoti, que falava ao idealista à margem da segunda edição da Convenção APEMIP Imocionate 2024 - que se realiza a 5 de julho de 2024, em Lisboa -, os investidores norte-americanos estão a olhar para vários segmentos do imobiliário, nomeadamente o residencial de luxo, o retalho e a hotelaria.

"Os Real Estate Investment Trusts (REITs) estão a comprar activos em todos os segmentos de mercado, é apenas uma questão de tempo até que a hotelaria se torne fundamental. Estou a falar de um potencial tipo de investidor relacionado, por exemplo, com o Alojamento Local (AL). Em Lisboa [os novos registos] estão proibidos, mas fora da capital é onde está o foco agora. Estão a olhar para este tipo de negócio, a fazer perguntas", revela Anthony Domathoti.

Quando questionado sobre o porquê de Portugal ser atrativo, o especialista elogia, por exemplo, a recuperação do país após a pandemia. E considera que os preços de compra de imóveis são mais baixos do que noutras zonas. "Os investidores americanos estão a olhar para o retorno do investimento e encaram esta questão de uma forma muito prática. [Portugal é um país muito pacífico, é economicamente estável e tem uma presença muito grande", diz, antecipando que grandes grupos e/ou fundos como a KKR, Blackstone e Cerberus vão investir fortemente no país em breve.

Investimento brasileiro

Um cenário otimista também é visto entre os investidores brasileiros. João Teodoro, presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI)-Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI) do Brasil, lembra que "Portugal sempre despertou grande interesse no Brasil por causa" das raízes que existem entre as duas nações, sendo que ainda há muitas pessoas que mantêm laços familiares.

"Portugal tem cerca de 10 milhões de pessoas, no Brasil, temos 216 milhões. Se estratificarmos os números, digamos, para 2% ou 3%, teremos cerca de 5 milhões de pessoas com um poder de compra muito elevado. E essas pessoas gostam muito de Portugal por várias razões. Lisboa, acima de tudo, é muito atractiva em comparação com outras cidades europeias. Há segurança, algo que hoje, infelizmente, falta no Brasil. Aliás, em toda a América Latina. E isso atrai muita gente. A língua também é outro fator muito relevante", explica.

Reiterando que "não há uma grande diminuição do interesse por parte dos investidores brasileiros" em Portugal, João Teodoro prefere colocar o dedo noutra ferida, "o problema do défice de construção", que faz com que a oferta tenha diminuído muito, levando a um potencial aumento de preços. E diz não ter dúvidas de uma coisa: "Nós [investidores brasileiros] vamos continuar a investir em Portugal".

"Não há uma grande diminuição de interesse por parte dos investidores brasileiros. (...) Nós vamos continuar a investir em Portugal."