Os emigrantes estão de volta. Os emigrantes portugueses regressaram para as férias.
É provável que as casas semi-construídas lá em baixo e lá em cima tenham um pouco mais de trabalho. A nossa ligação à Internet vai estar muito instável durante as próximas semanas, porque o sistema vai ficar sobrecarregado. Haverá fogo de artifício todas as noites e, o que é mais importante, os restaurantes estarão a abarrotar. É, portanto, a época dos piqueniques.
Dedicado
Os portugueses encaram os piqueniques da mesma forma que encaram qualquer outra atividade gastronómica: com entusiasmo e generosidade. Nada de sanduíches de ovos e agrião sentados numa toalha húmida, oh meu Deus, não. O mais heroico que já vi foi o de uma família numa praia perto de Moledo. A avó colocava cuidadosamente uma enorme porção de feijoada à transmontana nos pratos, enquanto a mãe raspava as espinhas das sardinhas do prato acabado para um saco. O pai, entretanto, estava a grelhar uma porção de costeletas de porco marinadas. É a isto que chamo um piquenique dedicado. Toda a família, claro, estava tão magra como um ancinho. Vale a pena fazer um piquenique num parque de merendas a sério, só para ver as delícias que as famílias ali agrupadas inventaram para as suas refeições ao ar livre. Nós, por nossa vez, costumamos misturar as coisas, como convém ao nosso estatuto internacional, e incluímos quiche entre os panados, salada de repolho com o chouriço e rolinhos de salsicha para acompanhar os rissois.
Créditos: Imagem fornecida; Autor: Fitch O'Connell ;
Um dos nossos parques de merendas preferidos encontra-se no topo da colina mais alta do nosso concelho. Como muitos topos de morros da nossa região, Viso contém uma capela construída onde um eremita se escondia. A sua toca, uma gruta de pouca profundidade, tinha sido talhada à mão na rocha, pelo que o eremita residente devia ser um troglodita muito pequeno. Esta depressão pedregosa está agora incorporada na pequena sacristia da capela, uma estrutura de granito simples e singela, sem a habitual ornamentação barroca tão apreciada nas igrejas portuguesas. Por isso, tem hipóteses de ser bela pela sua simplicidade e, claro, pela sua localização deslumbrante. No entanto, é também uma espécie de atração turística de fim de semana e, por isso, por razões que só um poder superior conhece, arruinaram completamente este toque de beleza austera, colocando um grande letreiro de néon por cima do altar. Este brilha num azul de clube noturno e diz Nossa Senhora do Viso. É de abanar a cabeça de espanto.
Créditos: Imagem fornecida; Autor: Fitch O'Connell;
Há um aviso na parede desse lugar isolado que implora ao visitante para não arrombar a porta da igreja, pois não há dinheiro ou objetos de valor guardados lá dentro. É possível que assim seja, mas isso não impediu que uma equipa de ladrões bem organizados escalasse o campanário uma noite e roubasse o grande sino tenor. O padre local lamentou não tanto a perda do sino em si, mas o seu som que, segundo ele, tinha feito parte do quotidiano de todos os que viviam ao seu alcance durante gerações. Por sorte, foram rapidamente encontrados benfeitores locais para substituir o bongo desaparecido, não apenas por um belo sino, mas por dois. Espero que também tenham pago alguma segurança.
Vistas deslumbrantes
Ficámos do lado de fora da capela no topo do monte (tecnicamente uma montanha) para admirar as vistas deslumbrantes sobre o vale do Tâmega até ao Marão e, sendo um dia razoavelmente claro, os picos do distante Parque Nacional de Gêres a norte. A sul, a antiga sede do poder da região, o castelo de Arnoia, estava a olhar para nós, mal-humorado, no topo da sua colina. Tivemos o cuidado de não olhar para trás.
Créditos: Imagem fornecida; Autor: Fitch O'Connell;
Logo abaixo de nós, o parque de merendas, povoado de carvalhos negros e robustos, que oferecem muita sombra, era o lugar onde se ouvia o som de famílias numerosas que se divertiam em família. A maior parte dos adultos gritava em português e muitas crianças corriam animadas e gritavam em francês. O fumo dos churrascos subia por entre as árvores e, debaixo de um deles, um homem tocava acordeão e cantava. Era praticamente ignorado por todos, exceto por duas mulheres de aspeto generoso, que se balançavam ao ritmo da música, cantando. Um casal de rapazes mais velhos percorria os trilhos de montanha adjacentes em quadriciclos e cobria toda a gente de pó e barulho. Que atenciosidade. Entretanto, grupos de homens atiravam discos a paus de madeira que se enterravam no pó, enquanto jogavam o jogo da malha. Hoje em dia, pensei, parece que só se vêem estes velhos jogos tradicionais quando os membros mais distantes da família regressam a casa. Sentado na borda de uma das mesas de madeira tosca estava um tipo corpulento e de cara vermelha que tinha um bebé agarrado firmemente ao pescoço. O bebé em questão era um bebé de cinco litros - uma garrafa de vinho de cinco litros. Estava empoleirado no seu ombro para facilitar o acesso, de modo a que uma ligeira inclinação lhe distribuísse vinho tinto rubi diretamente entre os lábios. Estava apenas a um passo de uma alimentação intravenosa de vinho. No conjunto, a cena era uma visão de verão tranquilizadora e normal. Só esperava que ele não fosse um dos condutores.
Fitch is a retired teacher trainer and academic writer who has lived in northern Portugal for over 30 years. Author of 'Rice & Chips', irreverent glimpses into Portugal, and other books.